De Leitora à Escritora: A Arte de Construir Personagens
- belreisender
- Dec 10, 2024
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Uma das coisas que mais me encantava nas aulas de literatura da escola era descobrir as camadas de intenção que permeavam as histórias. Em um livro, nada parecia ser ao acaso. Em cada vírgula ou escolha de palavra, o escritor parecia querer deixar um rastro para desvendar um mistério.
Ainda que se baseassem em estereótipos, as personagens tinham seu grau de complexidade e sutilezas que diziam respeito ao mundo que se criava dentro da obra e à mensagem que o autor queria passar. Era assim com Machado, Aluísio Azevedo, José de Alencar, dentre outros.
Quando iniciei os estudos para ir para o outro lado da pena, qual não foi a minha surpresa em notar que este é bem menos filosófico e mais cheio de regras do que para ser um leitor!
Um aspecto que me gerou um certo incômodo foi sobre a construção das personagens. Fazê-las “intensas”, inteiramente boas ou, então, totalmente ruins, levá-las às circunstâncias mais dramáticas, para que o leitor se apegue mais facilmente.
Nos livros em que vejo essa prática, o resultado consiste em personagens sem profundidade, facilmente esquecíveis, que, quando expostas a tais circunstâncias extremas, entregam um show previsível de afetação e trivialidade. No fim, elas apenas dão cabo de entreter o leitor até a próxima obra.
Os livros que mais me encantaram na vida foram aqueles que me permitiram refletir sobre os motivos das personagens, seus porquês. Eles ficavam comigo um tempo, conversando e me ensinando coisas em silêncio.
Há também os livros que, sem entender direito o porquê da atitude da personagem, inconscientemente guardei em uma caixinha que o tempo me faz esquecer. Só bem depois, diante de alguma situação da vida, é que o enredo pipoca na cachola, e com um estalo: “Epa, agora eu entendi!”
Evidentemente que intensidade e qualidade não se excluem propriamente. Se pensamos nos clássicos e nos mitos utilizados na construção de personagens, eles têm o mérito de serem intensos, sem serem rasos, justamente por retratarem essa natureza humana racional - mas falha.
É esse equilíbrio, entre a intensidade ficcional e a ambiguidade humana, que pretendo buscar ao construir a minha própria história.
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